terça-feira, 13 de outubro de 2015

O Manifesto Comunista

Karl  (1818-1883), o manifesto e suas ideias 

Texto do Pesquisador Jéferson dos Santos Mendes (RS) com pequenas modificações e ilustrações minhas.

Hoje, quase um bilhão de seres humanos são instruídos numa doutrina que, com ou sem razão, se denomina marxismo. Uma determinada interpretação da doutrina de Marx se transformou na ideologia oficial do Estado russo, e em seguida dos Estados da Europa oriental e do Estado chinês.
A história de toda a humanidade se resume para Marx e Engels na história da luta de classes, onde há um enfrentamento constante entre uma classe que é dominante e outra que é dominada, “Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores e oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta sem trégua, […]” (MARX, 2002, p. 23).

O contexto social por volta de 1848


Para Marx a sociedade moderna não substituiu a luta de classes, apenas trocou as classes antigas por novas, novas condições de opressão, da mesma forma novas formas de condições de luta. Nessa "época da burguesia" a sociedade cada vez mais caminha para dois grandes blocos inimigos: o proletariado e a burguesia, tendo passado para Marx e Engels por um longo processo de desenvolvimento, pelos diferentes modos de produção.Tendo em vista o papel fundamental que ocupou a burguesia ao longo da história.

Considerações sobre a Burguesia


Segundo Marx a burguesia destruiu todas as relações, sejam feudais, patriarcais, idílicas, transformando tudo em um puro interesse pelo dinheiro,“[…] pela exploração, aberta, cínica e brutal” (MARX, 2002, p. 28).
Dessa forma, “A burguesia rasgou o véu de emoção e de sentimentalidade das relações familiares e reduziu-as a mera relação monetária”. (MARX, 2002, p. 28). A burguesia para Marx é uma das causas das destruições entre os homens, dessa forma ela não pode existir sem “revolucionar os instrumentos de produção; portanto, as relações de produção; e assim o conjunto das relações sociais”.[8] Assim, o que era antigo deixa de existir sendo constantemente transformado, Marx expõe sua famosa frase “tudo o que era estável e sólido desmancha no ar; […]”.
Pressionada pela necessidade de mercados sempre mais extensos para seus produtos, a burguesia conquista a terra inteira. Tem que imiscuir-se em toda a parte, instalar-se em toda a parte, criar relações em toda a parte.
A burguesia conquista os quatro cantos do mundo, vai além fronteiras, pela exploração do mercado consumidor mundial, a burguesia levou todos os países à produção e o consumo, as indústrias para Marx que agora são novas indústrias, não adquirem insumos para fazer suas matérias-primas de localidades nativas, mas matérias-primas de outros países e seus produtos acabam sendo levadas para todos os lugares do mundo, antigas necessidades dão lugar a novas necessidades que acabam fazendo parte do consumo e da necessidade de cada indivíduo, nação ou país. (MARX, 2002, p. 30).

A burguesia opera de forma que todas as nações, todos os indivíduos adotem o modo de produção burguês, dessa forma, cria um mundo à sua própria imagem” (MARX, 2002, p. 31). A burguesia subjugou populações a outras, criou “cidades tentaculares”, que tiram pessoas dos campos e que aumentam as populações das cidades, Portanto, a burguesia centralizou a propriedade em poucas mãos, com isso, acabou também provocando/reforçando a centralização política, Marx considera que a burguesia conseguiu adquirir uma imponência tal que nem todas as gerações anteriores juntas conseguem o que ela fez em apenas um século,
Marx reconhece que as bases da formação burguesa iniciam ainda com o sistema feudal, com os meios de produção e de troca, onde foram substituídas pela livre concorrência, assim com a organização social e política, portanto com a supremacia econômica e política da classe burguesia.

A Crise do Sistema Burguês 


A crise de superprodução é vista por Marx, como uma onda de crises sucessivas, por quê ? Devido à “Civilização em excesso, meios de subsistência em excesso, indústria em excesso, comércio em excesso” (MARX, 2002, p. 34). As forças produtivas não mantém a civilização burguesa, essas se tornam fortes demais e acabam sendo travadas, o que leva a sociedade burguesa a cair no caos e na desordem, colocando em risco a própria sociedade burguesa. “As relações burguesas tornaram-se estreitas demais para conterem a riqueza que produziram” (MARX, 2002, p. 34).
Dessa maneira, existem duas formas da burguesia superar as crises, uma entra dentro do aniquilamento forçado de um enorme contingente de forças produtivas; e o outro pela conquista de novos mercados sem deixar de explorar os mais antigos. Assim, Marx define que das mesmas armas que a burguesia usou para bater o feudalismo, essas se voltam agora contra ela, porém não foram apenas as armas que esta burguesia criou para sua própria destruição, criou também os homens que empunharão as armas “os operários modernos, os proletariados” (MARX, 2002, p. 34).

A Lógica Funcional e as características do Sistema Burguês


O desenvolvimento da burguesia segundo Marx, assim, portanto, do capital, corresponde, segundo ele, ao desenvolvimento do proletariado, estes que “[…] só sobrevivem à medida que encontram trabalho, e só encontram trabalho à medida que seu trabalho aumenta o capital” (2002, p. 35).

Estes portanto, o proletariado, não passam de mercadoria como qualquer outra, por este fato estão sujeitos a todas as flutuações do mercado” (MARX, 2002, p. 35). Com a extensão do maquinismo e da divisão do trabalho, o trabalho perdeu todo o caráter de autonomia e, assim, todo atrativo para o operário. Este se torna um simples acessório da máquina. Só lhe exigem o gesto mais simples, mais monótono, mais fácil de aprender. Portanto, os custos que o operário gera limitam-se aproximadamente apenas aos meios de subsistência de que necessita para manter-se e reproduzir-se. 

Ora, o preço de uma mercadoria – e, portanto, também do trabalho – é igual a seus custos de produção. Por conseguinte, à medida que o trabalho se torna mais repugnante, o salário decresce. Mais ainda, à medida que o maquinismo e a divisão do trabalho aumentam, cresce também a massa do trabalho, seja pelo aumento do trabalho exigido em determinado lapso de tempo, seja pela aceleração do movimento das máquinas, etc.

O Proletariado, seu surgimento e situação

Marx cita que as pequenas fábricas de artesões se tornaram grandes fábricas, gerando grandes capitalistas. Quanto aos operários, Marx compara-os a soldados, devido a sua forma de organização dentro das fábricas; buscando o fim último para o burguês, o lucro, que não existe a diferença entre sexos, mulheres e crianças, o que resta são apenas, “instrumentos de trabalho”. Dessa forma, entende que “O proletariado passa por diversas etapas de desenvolvimento. Sua luta contra a burguesia começa com o nascimento” (MARX, 2002, p. 37).

Entende Marx, que o proletariado já nasce proletariado, na realidade Marx não vê no sistema burguês ou capitalista, mobilidade social, se o proletariado começa a sua luta contra o burguês já no seu nascimento. Inicialmente operários entram em luta isoladamente; em seguida, operários de uma mesma fábrica; depois, operários de um setor industrial, em um mesmo local, contra um mesmo burguês, que os explora diretamente.

Dirigem seus ataques não somente contra as relações burguesas de produção; dirigem-nos também contra os próprios instrumentos de produção; destroem as mercadorias estrangeiras concorrentes, quebram máquinas, incendeiam fábricas, procuram reconquistar a posição desaparecida do artesão medieval.



Marx então vê que, quando existia o artesão industrial não havia uma desigualdade latente e tão generalizada, aberta e cínica por parte da burguesia, por fim os operários formariam uma massa em todo o país dividida apenas pela concorrência deles mesmos, essa união que é fruto da burguesia que usa do proletariado para atingir os seus interesses e seus objetivos políticos, dessa forma, os proletariados não combatem seus inimigos, mas os inimigos de seus inimigos […]” (MARX, 2002, p. 38).

Estes que seriam remanescentes da monarquia absolutista, burgueses não-industriais, daí para Marx “[…] todo movimento histórico concentrasse nas mãos da burguesia” (MARX, 2002, p. 38). A vitória é alcançada pela mesma.

Crescimento e Conscientização Política 


Mas, com a expansão da indústria, o proletariado não somente cresce; concentra-se em contingentes cada vez maiores; sua força cresce, com o sentimento que dela adquire. Os interesses, as condições de vida no seio do proletariado homogenízam-se cada vez mais, à medida que o maquinismo oblitera as diferenças do trabalho e quase em toda a parte reduz os salários a um nível igualmente baixo. A concorrência crescente dos burgueses entre si e as crises comerciais que daí resultam, do salário dos operários sempre mais instáveis. O aperfeiçoamento incessante e sempre mais rápido do maquinismo torna sua situação cada vez mais precária. Cada vez mais, conflitos isolados entre operários e burgueses assumem o caráter de conflitos entre duas classes.

Os operários começam por formar coalizões contra os burgueses; unem-se para defender seu salário. Chegam até a fundar associações duradouras para se premunirem em caso de sublevações eventuais. Aqui e ali, a luta transforma-se em motins.

Marx cita que os operários triunfam, mas é um triunfo passageiro, o resultado é o aumento de sua união, que aumenta também pelos meios de comunicação, que é criado pela grande indústria, ocorrendo lutas por toda a parte, luta de classes, “Mas toda luta de classes é uma luta política” (MARX, 2002, p. 39).

Aí Marx atribui ao homem o conceito de ser político por natureza de Aristóteles, por três vieses quando entende por uma luta de classes toda a história da humanidade, segundo que a luta do proletariado contra o burguês começa do nascimento e por último que a luta de classes é portanto uma luta política.

Como cita Konder “A burguesia teme a ascensão do proletariado […]” (1998, p. 78).
Marx acredita que em determinado momento uma burguesia consciente do problema do proletariado se unirá a eles, uma burguesia ideológica. 

Marx afirma que de todas as classes que enfrentaram a burguesia, a classe do proletariado é uma classe revolucionária, sendo as outras levadas ao desaparecimento com o desenvolvimento da indústria.

As classes médias – o pequeno industrial, o pequeno comerciante, o artesão, o camponês -, todos combatem a burguesia para preservar do desaparecimento sua existência como classes médias. Portanto, não são revolucionárias, pois procuram girar a contrapelo a roda da História. Quando são revolucionárias, o são à luz da perspectiva iminente de sua passagem para o proletariado. Defendem não mais seus interesses presentes, mas seus interesses futuros; abandonam seu próprio ponto de vista para assumir o do proletariado.

Toda a situação que leva o proletariado a vender-se, “O proletariado não possui nada; […]” (MARX, 2002, p. 42), Marx entende que a submissão do proletariado ao capital moderno é o mesmo em toda a parte, dando exemplo de Inglaterra, França, América e Alemanha, e que leis, religião e a própria moral são preconceitos burgueses, na verdade esses apenas camuflam seus interesses.

A Luta do Proletariado e a Revolução


Para que o proletário consiga a sua vitória ou conquista, ele deve primeiro expropriar todas as condições do passado, a luta do proletariado contra a burguesia, primeiro é uma luta nacional, segundo os proletários de cada país devem acertar as contas com suas burguesias, segundo, as fases da dominação, primeiro a guerra civil, depois a revolução aberta, com o proletariado lançando as bases de sua dominação, incorrendo com a derrubada da burguesia.

A sociedade não pode mais existir sob o domínio da burguesia, pela incapacidade que essa tem de mantê-la,

A base da classe burguesa, Marx define como a riqueza nas mãos privadas e a formação e incremento do capital. Sendo que a condição para a existência do capital é o trabalho assalariado, a concorrência entre os operários. Assim, “A burguesia produz, acima de tudo, seus próprios coveiros” (MARX, 2002, p. 54), a sua queda, e a vitória do proletariado é para Marx algo inevitável.

Na segunda parte do livro Marx expõe a relação dos comunistas com os proletariados, os comunistas para Marx diferenciam-se em dois aspectos dos outros partidos proletários: um pelo fato de estabelecer uma relação comum de interesses entre os proletários, portanto não desenvolve um pré-conceito nacionalista; em segundo, sempre representou o interesse do movimento em geral. Assim, os comunistas passam a ser a fração mais decidida entre os partidos proletários, pois manifestam suas vontades e interesses das massas,

Para Marx, possuem uma visão clara desses objetivos, dessa forma, “O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo de todos os demais partidos proletários: formação do proletário em classe, derrubada da dominação burguesa, conquista do poder político pelo proletariado” (MARX, 2002, p. 47).

Marx resume a teoria comunista em “supressão da propriedade privada”, vem a pergunta: qual propriedade Marx esta falando? Responde não ser a propriedade dos pequeno-burgueses que estão perdendo dia a dia graças à industrialização a sua propriedade, para Marx, o que o proletariado ganha não dá possibilidade alguma de ter uma propriedade.

Só tendo condições de ter propriedade quem explora o trabalho assalariado que cria o capital. Portanto, a propriedade gravita em torna do trabalho assalariado e do capital. O capital é um produto coletivo, sendo apenas possível a sua mobilização através da participação de inúmeros membros. Se o capital for transformado em um bem coletivo, dessa forma, que pertença a todos os membros dessa sociedade, a propriedade perde o caráter de classe.

Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é apenas um meio para multiplicar o trabalho acumulado. Na sociedade comunista, o trabalho acumulado é apenas um meio para aumentar, enriquecer, fazer avançar a existência dos operários.

Marx procura dessa forma atingir tudo com a proposta de supressão, a família para Marx só existe para a burguesia e esta repousa no capital e no lucro privado, portanto deve ser suprimida. A educação também deve ser modificada não mais uma educação familiar, mas uma educação social. A ânsia pelo capital faz com que a burguesia explore até mesmo suas mulheres, transformando-as em meros instrumentos de produção.

Para Marx toda a história girou em torno da oposição de classes, dessa forma a revolução comunista é a forma mais radical de rompimento com as relações tradicionais. O proletariado depois de acender ao poder devera suprimir todo o capital burguês, pondo tudo nas mãos do Estado, na verdade dos proletariados organizados como uma classe dominante para também aumentar o contingente das forças de produção.

À medida que desaparece a diferença entre as classes, o poder público acaba perdendo o seu caráter político. Dessa forma, ocorrendo a supressão da diferença entre as classes. Porém, “É impossível colher uma rosa sem espinhos!” (MARX, 2006, p. 60).

Por fim, Marx examina as concepções socialistas, nega as concepções de Saint-Simon, Owen, Fourier, etc. que segundo Marx rejeitam a ação política, portanto, o modo revolucionário. Buscam seus objetivos por vias pacíficas.

A Alemanha estaria para Marx às vésperas de uma revolução burguesa, o proletariado estaria mais desenvolvido, do que na França e na Inglaterra.
Por fim, Marx lança a sua proclamação, de que os proletariados não têm nada a perder a não ser “os seus grilhões”, dessa maneira única forma de atingirem os seus objetivos é pela união.




BIBLIOGRAFIAS:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. Tradução Sergio Bath. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes.
Homem e sociedade: leituras básicas de sociologia em geral [organização e introdução de] Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni. 11. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1977.
KONDER, Leandro. Marx: vida e obra. Expressão popular, 1998.
MARX, Karl. Liberdade de Imprensa. Tradução de Claudia Schilling e José Fonseca. Porto Alegre: L&PM, 2006.
MARX, Karl. Manifesto do partido comunista / Karl Marx / c/ Friedrich Engels; tradução de Sueli Tomazzini Barros Cassal. Porto Alegre: L&PM.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Tradução Reginaldo Sant’Anna. 22. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.


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