terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Círculo Vicioso do preconceito linguístico

O círculo vicioso do preconceito linguístico

Os três elementos que são quatro

O círculo vicioso do preconceito linguístico é formado pela gramática tradicional, pelos métodos tradicionais de ensino e pelos livros didáticos. A gramática tradicional inspira a prática de ensino, que por sua vez faz surgir à indústria do livro didático que novamente recorre à gramática tradicional como fonte de inspiração e teorias sobre o ensino da língua, formando assim o círculo vicioso.


A gramática tradicional, contínua muito usada nas mais variadas práticas de ensino que variam muito de região, de escola e até de professor, de acordo com as normas pedagógicas adotadas, mas que hoje já está menos rígida, e o Ministério da Educação têm feito esforços para provocar uma reflexão sobre os temas relativos à ética, para que se adote uma postura mais flexível no ensino da escrita e da língua padrão.

O autor cita um quarto elemento oculto dentro deste círculo, o qual ele chama de comando para gramaticais (arsenal de livros, manuais de redação de empresas jornalísticas, programas de rádio e de televisão, colunas de jornal e de revista, CD-ROMS, “consultórios gramaticais” por telefone etc.) Estes comandos propagam velhas noções de que “brasileiro não sabe português” e que “português é muito difícil”.

O círculo vicioso que se forma ao redor do falante da língua portuguesa faz com que ele mesmo pense que o português brasileiro é difícil, ou que ele não sabe falar sua própria língua corretamente. A mídia aproveita-se disso. Devia ser o contrário, aproveitar toda sua força para denunciar tantos preconceitos e não haver este mercado tão intenso que cresce em cima de tantos mitos.

Sob o império de Napoleão

Napoleão Mendes de Almeida
Através do comando para gramaticais, considerado o quarto elemento do círculo vicioso, deve-se destacar o maior propagador do preconceito linguístico, foi durante muito tempo o professor Napoleão Mendes de Almeida, que em suas colunas de jornal, nunca escondeu sua intolerância, e que durante muito tempo foi tido como “defensor intransigente da língua”.

O que não pode deixar de citar é que ele sempre defendeu essa mesma “língua”, como preconceito social e linguístico, usando muitas vezes da expressão “língua de cozinheiras”, ou chamando de infelizes aqueles que não faziam uso da norma padrão, por serem do interior ou menos favorecidos.

Um festival de asneiras

Na mesma linha de conduta preconceituosa se encontra o livro “Não Erre Mais”, de Luiz Antônio Sacconi que, para Bagno, não tem critério de organização e tenta ensinar coisas inúteis como pronúncias corretas, ou conjugações de verbos nunca usados pelos falantes da língua brasileira. Ainda corrige “erros” que não possuem frequência, portanto não podem servir de regra e não justifica sua inclusão no livro, mas o pior são suas expressões preconceituosas, os que não falam o "idioma correto" são tratados por ignorantes, deixando todos os leitores entender que o único capaz de usufruir a norma culta é ele mesmo.

Os jornalistas foram seu alvo preferido, aos quais ele chama de incompetentes e os considera um estorvo para os professores de português, chegando ao absurdo de dizer que de tanto inventarem a língua, vão acabar fazendo uma só para eles. Muitos outros segmentos não escapam do seu ataque preconceituoso, os italianos, as pessoas do interior, os caminhoneiros,… em todo o livro.

Beethoven não é dançado!

Bagno fez uma crítica à coluna do jornal chamada “Dicas de Português”, assinada por Dad Squarisi cujo título era “Português ou de Caipirês” ?, A que se referia à viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso a Portugal, quando acusou os brasileiros de serem todos caipiras. A autora se achou no direito de ofender, desprezar e ridicularizar os falantes das outras variedades linguísticas. O texto de Bagno aponta todos os preconceitos praticados pela autora da coluna contra o povo brasileiro, sem esquecer da questão gramatical.

Dad afirma que o brasileiro, caipira, jeca-tatu, capiau, matuto, “sem nenhum compromisso com a gramática portuguesa, não faz concordância em frases como "vende-se carros”. Segundo Bagno a questão da partícula se em enunciados do tipo acima vem sendo investigada há muito tempo nos estudos gramaticais e linguísticos brasileiros. O que todos os estudiosos concluem é que, na língua falada no Brasil, no português brasileiro, ocorreu uma reanálise sintática nesse tipo de enunciado, isto é, o falante brasileiro não considera mais esses enunciados como orações passivas sintéticas. O que a gramática normativa insiste em classificar como sujeito a gramática intuitiva do brasileiro interpreta como objeto direto.

Squarise em um dos seus muitos textos, mostra seu preconceito étnico e social perante os falantes da língua portuguesa. O que foge ao seu conhecimento são as mudanças que nossa língua já teve, as adaptações que os falantes já fizeram e continuam fazendo, o que é normal, pois a língua não é inerte, e está sempre em constante transformação.

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