terça-feira, 29 de setembro de 2015

A desconstrução do preconceito linguístico

Mudança de atitude
O autor indica algumas maneiras para acabar com o preconceito linguístico. Primeiramente é preciso mudar de atitude e valorizar o saber de cada indivíduo, discordando das pessoas que menosprezam as diversas maneiras de falar.
O professor também precisa ser mais crítico com a norma culta que ensina, refletir sobre o que está ensinando, ao invés de apenas repetir, tirando da gramática tradicional o que realmente é útil, e deixando de lado as informações preconceituosas e intolerantes. Essa nova postura crítica exige do professor constante atualização, ele deve ser um verdadeiro pesquisador, incentivando seus alunos a quebrarem os mitos em torno da língua portuguesa.
É preciso reconhecer que o preconceito linguístico continua muito forte, e nada vai mudar se a sociedade na qual estamos inseridos não tiver significativas mudanças. Mas podemos tomar algumas atitudes contra o preconceito linguístico. Em primeiro lugar é preciso que nos tornemos pessoas críticas e investigadoras de nosso próprio conhecimento linguístico, deixando de lado a atitude repetidora, e passando para uma atitude reprodutora, formando-nos e informando-nos.
Em segundo, sermos mais críticos quanto a nossa prática diária de ensino. Ensinar sim o que nos é cobrado, mas sempre com uma atitude crítica, mostrando que esta é apenas uma parte do grande universo maravilhoso que é a linguagem.Terceira atitude é ensinar mostrando perante todas as cobranças que as ciências evoluem, assim como a ciência da linguagem também.
O que é erro?
Para acabar com o preconceito linguístico, é preciso reavaliar a “noção de erro”. Há uma grande confusão entre língua escrita e falada, e muito dos “erros de português” são apenas erros de grafia. A ortografia dita correta, é ditada pela política, economia e ideias de uma determinada época, sendo que ela muda através do tempo sem mudar a intenção da palavra. Todo falante nativo de uma língua é plenamente competente e capaz de distinguir as regras de funcionamento de sua língua materna. O falante nativo de sua língua não comete erros, pois não forma frases que não respeitem as regras de funcionamento da língua.
Portanto, precisa-se abandonar a ideia de que quem escreve “tudo errado” é um ignorante da língua. O aprendizado da ortografia se faz pelo contato frequente com textos bem escritos, e não com regras mal elaboradas. Ao lermos um texto escrito por alguém, deve-se primeiro dar valor ao que ele está querendo dizer, para só depois nos deter em como ele está dizendo.
1. Conscientizar-se de que todo falante nativo de uma língua é um usuário competente dessa língua, dominando-a por completo.
2. Aceitar a ideia de que não existe erro de português, apenas diferenças ou alternativas.
3. Não confundir erro de português com erro de ortografia, que é artificial e pode mudar, ao contrário da língua, que é natural.
4. Reconhecer que tudo que a gramática tradicional chama de erro é na verdade um fenômeno perfeitamente explicado, se a maioria dos falantes usa uma norma que difere da tradicional, é porque já existe uma regra sobrepondo-se à antiga.
5. Aceitar que toda língua muda e varia, o que é visto hoje como “certo”, já foi “erro” no passado, e assim sucessivamente.
6. Conscientizar-se de que a língua portuguesa não vai nem bem , nem mal, ela apenas segue seu curso e sua evolução.
7. Respeitar a variedade linguística de toda e qualquer pessoa.
8. Entender que a língua permeia tudo, e nós somos a língua que falamos, é ela que molda nosso modo de ver o mundo, e nosso modo de ver o mundo molda a língua que falamos.
9. A língua está em tudo, e tudo está na língua.
10. Ensinar bem e para o bem, respeitando o conhecimento do aluno, valorizando o que ele já sabe do mundo e da vida, reconhecendo na língua que ele fala sua própria identidade como ser humano, sempre acrescentando e elevando sua autoestima.
Então vale tudo?
Com a eliminação da noção de erro, muitos entendem que então vale tudo. Não é bem assim, é que em termos de língua, tudo vale alguma coisa. O que devemos entender é que a maneira de falar vai depender de vários fatores. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio entre a adequabilidade e a aceitabilidade, tanto na modalidade oral como na escrita, tudo vai depender da situação de uso da língua em que nos encontramos. É totalmente inadequado, por exemplo, fazer uma palestra num congresso científico usando gíria, o público dificilmente aceitará isso; mas se o objetivo do palestrante for chocar os ouvintes, aquela linguagem será adequada.

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